quinta-feira, 1 de maio de 2008

Adeus Mundo Velho! Feliz Mundo Novo!

Eis um assunto badalado não apenas nos círculos religiosos, mas também nas rodas de amigos nos bares, entre vizinhas nas calçadas, e até nos meios acadêmicos. Basta uma tragédia, como a que aconteceu no dia 26 de dezembro de 2004, quando uma Tsunami varreu a costa de dez países asiáticos, matando centenas de milhares de pessoas, para que o assunto volte a ser discutido. O fim do mundo tem sido tema de vários filmes de Hollywood. Dependendo dos autores e diretores cinematográficos, o mundo pode acabar através do impacto provocado por um asteróide, como no filme “Armagedom”, ou através de uma nova era glacial, como no filme “O Dia depois de amanhã”, ou pela invasão de alienígenas, como em “Independence Day”. O que não falta são versões para o cataclismo final, que colocará em risco a preservação do planeta Terra e da raça humana. Que bom que os Estados Unidos, que sempre aparecem como o mocinho da história, estão aí pra evitar o pior. Será que eles fazem jus ao papel dado pelos cineastas americanos?

Muitos roteiros de filmes apocalípticos são inspirados em previsões como a dos escritor francês Rey-Dusseil, em La Fin du Monde (1830), que imaginou a destruição da Terra pela passagem de um cometa, que alteraria o eixo de rotação do planeta, e elevaria o nível dos oceanos. Já o escritor e astrônomo francês Camille Flammarion (1842-1925), que escreveu um livro com o mesmo título (1893), presumiu a morte lenta do planeta pelo frio em uma nova era glacial.
Inúmeros cientistas, físicos e astrônomos têm se ocupado nesse tema. Alguns se debruçam sobre as causas que provocariam a destruição completa do Universo daqui a alguns bilhões de anos, enquanto outros se preocupam com uma eventual catástrofe que pudesse destruir a Terra a qualquer momento. Carl Sagan (1934-1996), famoso astrônomo norte-americano por seu programa de TV “Cosmos”, anunciava a possibilidade da vida na Terra ser exterminada por um inverno nuclear. [1] Os cientistas que defendem o surgimento do Universo a partir do Big-Bang ocorrido a cerca de 15 bilhões de anos, acreditam que ele chegará ao fim daqui a mais ou menos 50 bilhões de anos, através de um Big Crunch. Segundo eles, desde o Big Bang, o Universo está em expansão, mas chegará o tempo em que começará a se contrair, até desaparecer.

Essa contração fará com que as galáxias se aproximem, produzindo choques entre as estrelas. Quando a contração atingir seus estágios finais, as condições serão críticas para a vida, o Universo todo se aquecerá, atingindo temperaturas inimagináveis. As estrelas e os planetas se evaporarão. Toda a matéria existente entrará num estado semelhante ao que existiu no início, após o Big Bang, mas com uma diferença: o fim do universo será como uma bola de fogo que implodirá. Se ele começou com uma explosão, nada mais razoável do que supor que terminará com uma implosão. Partindo desse raciocínio, poderíamos dizer que no final, o “haja luz” será substituído pelo “Apague a luz”.

Tudo isso é apavorante. Mas não passa de especulação científica. Os próprios cientistas dizem não haver razão para nos alarmarmos, pois quando isso ocorresse, a humanidade já teria desaparecido há bilhões de anos. Antes que o Universo entre em colapso, o Sol já terá gasto toda a sua energia, o sistema solar terá morrido. Antes que isso aconteça, a Terra já terá sido engolida pelas radiações solares, que deverão aumentar significantemente, antes que ele comece a morrer. E talvez, antes que isso aconteça, a vida na Terra já terá sido exterminada, quer pelo choque de algum asteróide, ou pelas mãos do próprio homem.

Diante deste quadro aterrorizador, haveria alguma esperança?


O que Jesus teria dito sobre o fim do mundo?


Onde encontramos na Bíblia alguma profecia acerca do fim do mundo? Será que há algum embasamento bíblico para a afirmação de que o mundo vai acabar?

Uma das passagens mais usadas pelos pregadores do “fim do mundo” está em Ezequiel 7:2-3:

“Filho do homem, assim diz o Senhor Deus ACERCA DA TERRA DE ISRAEL: O FIM! O fim vem sobre os quatro cantos da terra. Agora vem o fim sobre ti...”
Dizer que esta passagem diz respeito ao mundo inteiro, é, no mínimo, forçar o texto, torcendo-o, sem respeitar qualquer regra de hermenêutica. Pregadores no auge de seu entusiasmo apocalíptico, bradam: - O Fim vem! O fim vem sobre os quatro cantos da terra! O que eles não percebem é que esta profecia fora endereçada a Israel, e não ao mundo todo.

Ezequiel profetizava acerca do fim da nação israelita como o povo da aliança, e não sobre o fim do planeta Terra.

Com o final da Antiga Aliança, e a rejeição do Messias por parte dos judeus, Israel deixou de ser o povo de Deus. O fim veio sobre eles, afinal. Com o advento da Nova Aliança, as portas foram abertas para nós, os gentios. O reino foi tirado dos judeusl, e entregue a um povo que daria os frutos necessários (Mt. 21:43).

Veja o que Amós profetiza sobre isso:

“...Então o Senhor me disse: Chegou o fim sobre o meu povo Israel; daqui por diante nunca mais passarei por ele...Os olhos do Senhor Deus estão sobre este reino pecador, e eu o destruirei de sobre a face da terra...”
AMÓS 8:2b; 9:8a

Diante de tais evidências proféticas, podemos afirmar que o fim prenunciado pelos profetas já veio. Isto mesmo! O fim veio sobre os que rejeitaram o Messias.

E Amós ainda profetiza:

“Naquele dia tornarei a levantar a tenda de Davi, que está caída, e repararei os seus lugares quebrados, restaurarei as suas ruínas, e a edificarei como nos dias da Antigüidade, para que possuam o restante de Edom, e TODAS AS NAÇÕES que são chamadas pelo meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas.”
AMÓS 9:11-12.

Quando o Tabernáculo de Moisés foi derrubado, o de Davi foi restaurado. O de Moisés só podia receber os judeus, porém o de Davi era aberto a todos os povos.

Na época de Jesus, o Templo de Jerusalém era a representação do tabernáculo mosaico. Todo o sistema da Velha Aliança estava sintetizado naquele templo. Foi o fim dele que Jesus profetizou ao dizer aos discípulos que não ficaria pedra sobre que não fosse derrubada (Mt.24:2).

Com a queda do templo em 70 d.C. , e a invasão e destruição de Jerusalém pelo exército romano comandado por Tito, a Antiga Aliança teve seu fim para sempre, com os seus cultos e sacrifícios.

Embora a Nova Aliança tenha sido inaugurada na Cruz, ela só foi plenamente instaurada com a queda do primeiro tabernáculo.

O Escritor Sagrado afirma que o “Espírito Santo estava dando a entender com isto que o caminho do Santo dos Santos ainda não está descoberto, enquanto continua em pé o PRIMEIRO TABERNÁCULO. Esta é uma parábola para o tempo presente, em que se oferecem tanto dons como sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que presta o culto. Não passam de ordenanças de comida, bebidas e várias abluções impostas até à época da reforma” (Hb. 9:8-10).

O templo de Jerusalém era o símbolo maior do judaísmo. Ele já havia sido destruído e reconstruído duas vezes, mas agora, sua queda seria irreversível. Era o fim de uma Era. Com a sua queda, uma nova ordem era estabelecida por Deus. Chegara o tempo da reforma! Os sacrifícios haviam sido definitivamente cortados. Agora, o caminho do Santo dos Santos estava completamente descoberto, e o tabernáculo de Davi estava restaurado, e pronto para receber todas as nações da Terra. A Igreja de Cristo é esse tabernáculo franqueado a todos os povos.
Quando Jesus contou aos Seus discípulos sobre a queda do templo, eles ficaram atônitos e perturbados, suplicando-Lhe: “Dize-nos quando acontecerão estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda e do fim dos tempos” ( Mt.24:3 ).

A partir daí, Jesus começou a explicar quais os sinais que precederiam o fim daquela Era. Ele falou-lhes sobre falsos Cristos, sobre guerras, fomes, pestes, terremotos, perseguição e etc. Segundo Ele, isso era apenas o princípio das dores, e não o fim. Porém, Jesus prosseguiu dizendo que o fim viria quando “este evangelho do reino” fosse pregado em todo o mundo, “em testemunho a todas as nações. Então virá o fim” (v.14).

Tudo o que Jesus predissera foi vivido pelos crentes do primeiro século. Foi realmente um tempo de guerras, de fomes, de pestes e principalmente, de muitas perseguições. Até mesmo os falsos Cristos previstos por Ele surgiram no cenário. João fala sobre isso em sua primeira Epístola. Ali ele escreve:

“Filhinhos, esta é a ÚLTIMA HORA; e como ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos têm surgido, pelo que conhecemos que é a última hora.”
I JOÃO 2:18.

Será que João precipitou-se em sua conclusão? É claro que não! O apóstolo amado de Cristo sabia que eles estavam vivendo não apenas os últimos dias, mas também a última hora, a reta final do Velho Pacto. Aliás, Jesus havia prometido que João seria o discípulo que viveria durante o tempo do fim, e que presenciaria a manifestação do julgamento de Deus sobre Israel (Jo.21:22-23) .

Provavelmente, João tinha em mente a promessa de Jesus de que aquela geração presenciaria o fim daquela Era (Mt. 24:34), e o estabelecimento do Seu Reino (Mt.16:28).

E quanto ao evangelho do Reino? Terá ele sido pregado em todo o mundo?

Primeiro, precisamos entender o significado da palavra “mundo” neste texto. O vocábulo grego traduzido aqui por “mundo” é oikoumene que significa “mundo habitado”. Muitas vezes era usado no Novo Testamento para designar os territórios dominados pelo Império Romano. Por exemplo, esta palavra é usada em Lucas 2:1, onde lemos: “Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado.” Esta mesma palavra é usada por Paulo em Romanos 1:8, onde ele diz: “Primeiramente dou graças ao meu Deus, por meio de Jesus Cristo, no tocante a todos vós, porque EM TODO O MUNDO é anunciada a vossa fé”.

A prova de que o evangelho do Reino foi pregado em todo o mundo habitado, compreendendo a totalidade dos territórios sob o Império Romano, está em algumas passagens, tais como esta:

“Em todo o MUNDO este evangelho vai frutificando...”
COLOSSENSES 1:6.

E Paulo vai mais longe ainda ao dizer que o Evangelho havia sido pregado a toda criatura que há debaixo do céu (Col.1:23), numa justificável hipérbole, cuja finalidade era a de demonstrar a expansão do Evangelho ainda naqueles dias.

Lucas dá testemunho disto quando relata nos Atos dos Apóstolos que em apenas dois anos “todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos” (Atos 19:10).

Quando Paulo e Silas chegaram à Tessalônica, os judeus invejosos testificaram: “Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui” (At.17:6b).

Não resta dúvida de que a profecia de Jesus foi cumprida ainda naqueles dias. A todo o mundo, isto é, a todo o oikoumene foi pregado o Evangelho do Reino de Deus.

Dito isto, podemos concluir que o cenário estava pronto para o Fim.

Sabedor disso, Paulo aconselhava aos crentes de Corínto:

“Tudo isto lhes aconteceu como exemplos, e estas coisas estão escritas para aviso nosso, PARA QUEM JÁ SÃO CHEGADOS OS FINS DOS SÉCULOS.”
I CORÍNTIOS 10:11.

Paulo não tinha dúvida de que o FIM já havia chegado. E não só Paulo, como também os demais apóstolos. Para João, aquela era a última hora. Para Pedro, o fim já estava próximo. Sobre isso, escreveu o apóstolo:

“Ora, já está próximo o fim de todas as coisas. Portanto, sede sóbrios, e vigiai em oração.” I PEDRO 4:7.

O escritor de Hebreus vai mais longe quando afirma o momento vivido por eles nada mais era do que a CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS.

“...AGORA, NA CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS, uma vez por todas se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.”
HEBREUS 9:26b.

Ratificando a afirmação do escritor sagrado, Paulo diz que a plenitude dos tempos já havia chegado, tendo como prova o fato de que Deus havia enviado Seu Filho em carne.

“Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei.”
GÁLATAS 4:4.

A Bíblia chama de Plenitude dos Tempos o período que vai do nascimento de Jesus até a destruição de Jerusalém. Na plenitude dos tempos, ou consumação dos séculos, Deus enviou Seu Filho nascido de mulher, debaixo da Lei de Moisés. Na plenitude dos tempos, Jesus ofereceu-Se a Si mesmo como sacrifício a Deus pelo pecado da humanidade. Na plenitude dos tempos, com a queda da Velha Aliança, Deus fez convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus, quanto as que estão na terra, criando em Si mesmo uma Nova Ordem que inclui todo o universo, físico e espiritual. A esta nova ordem, chamamos de Novo Céu e Nova Terra.
Paulo diz aos Efésios que o propósito eterno de Deus era “fazer convergir em Cristo todas as coisas, na dispensação da PLENITUDE DOS TEMPOS, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef.1:10).

Convém lembrar que esses mesmos elementos que agora, na plenitude dos tempos, são reagrupados e reordenados em Cristo, foram criados por meio d’Ele. Paulo diz em outro texto que “nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele” (Col. 1:16). Mas o fato é que, pelo pecado, a antiga ordem foi danificada. A desarmonia instaurou-se, e com ela, o caos. Mas pela Sua morte, a harmonia foi restaurada, e uma nova ordem implantada.

Segundo Paulo, “foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele RECONCILIASSE consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Col.1:20).

Creio que neste texto, Paulo não está falando apenas da plenitude de Deus habitando em Cristo, mas também da plenitude do universo, tanto o espiritual como o material. Isto só foi possível pelo fato de todas as coisas terem sido criadas n’Ele. Portanto, agora, Ele reunia em Si mesmo todas as coisas, afim de reordená-las, reconciliando-as com Deus.

Veja que, em momento algum, foi o propósito de Deus destruir todas as coisas. Quando Ele anuncia o fim, Ele está falando sobre o fim da ordem danificada, ou o fim da desordem causada pelo pecado. A palavra chave não é destruição, e sim, reconciliação. À medida que as coisas criadas convergem em Cristo, elas são reconciliadas com Deus, e restauradas à sua condição original.

A Bíblia diz que Deus constituiu o Filho herdeiro de tudo. Imagine se Deus O faria herdeiro de algo que deveria ser destruído (Hb.1:2).

Quando a Escritura afirma que a terra e o céu passarão, está se referindo à ordem neles estabelecida.

Por exemplo: o mundo dos tempos de Noé acabou quando Deus enviou o Seu julgamento através do dilúvio. De Adão a Noé foi estabelecida uma ordem no caos. Por essa ordem, o pecado se multiplicou. Por isso Jesus diz:

“Como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem. Pois assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos - assim será também a vinda do Filho do homem.”
MATEUS 24:37-39.

Havia uma ordem estabelecida naquele mundo antigo.

Quando Jesus diz que eles comiam e bebiam e se davam em casamento, Ele não está condenando esses costumes, como se fossem pecaminosos. O que Jesus quer deixar claro é que havia uma ordem na sociedade daquela época. Eles não eram seres irracionais. Eles se organizavam em uma sociedade bem ordenada, mas que excluía Deus de seu contexto. Até que Deus enviou o dilúvio e destruiu aquele mundo.
Pedro escreve:

“Deus...não poupou o MUNDO ANTIGO, embora preservasse a Noé, pregoeiro da justiça, com mais sete pessoas, ao trazer o dilúvio sobre o mundo dos ímpios.”
II Pedro 2:5.

Deus não destruiu o mundo (kosmos), e sim o “mundo dos ímpios”. Aquela ordem social precisava ser desfeita, pois não incluía o Criador. Deus pretendia, através de Noé, estabelecer um novo mundo, uma nova ordem. Assim também, como foi nos dias de Noé, Deus enviou Seu Filho Jesus para destruir o velho sistema, e edificar, através da Igreja, uma nova ordem, uma nova humanidade, uma nova civilização.
Pedro ainda escreve:

“Sabei primeiro que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? Desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem COMO DESDE O PRINCÍPIO DA CRIAÇÃO. Eles, de propósito, ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a Antigüidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água, e no meio da água subsiste. Por essas coisas também pereceu o MUNDO DE ENTÃO, coberto pelas águas do dilúvio. Mas os céus e a terra que existem agora, pela mesma palavra, têm sido guardados para o fogo...”
II PEDRO 3:3-7.

O “mundo de então”, que foi destruído pelas águas do dilúvio, é uma referência à ordem social e espiritual vigente nos dias de Noé. Da mesma forma, o mundo dos dias de Pedro, e da Igreja Primitiva haveria de perecer. Aquela ordem estabelecida pela Lei Mosaica já estava obsoleta, e por isso, prestes a findar.

De acordo com Pedro, muitos escarnecedores não compreendiam isso. Eles achavam que o fim daquela Era deveria ser uma espécie de cataclismo cósmico, envolvendo todo o mundo material. Pedro, no afã de esclarecer a Igreja acerca disso, procurou mostrar que o fim daquela Era seria semelhante ao fim do mundo pré-diluviano.

Creio que jamais foi a intenção de Deus destruir o Cosmos. Pelo contrário, Sua intenção sempre foi restaurá-lo.

O que confunde muita gente são as interpretações equivocadas de algumas passagens bíblicas, como por exemplo a registrada em II Pedro 3:10-13, onde lemos:

“Mas o dia do Senhor virá como um ladrão. Os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nelas há, serão descobertas. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas não deveis ser em santidade e piedade, aguardando, e desejando ardentemente a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se dissolverão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.”

Parece-me que este texto deve ter inspirado muitos filmes de Hollywood . São cenas realmente espetaculares!

Imagine os céus se dissolvendo e passando com grande estrondo! Os elementos ardendo e se desfazendo!

Não seria este texto a prova de que Deus prepara o mundo para viver um colapso? De primeira mão, a resposta parece ser “sim”. Tudo parece indicar que o que Deus tem reservado para o universo atual é a destruição completa. Porém, precisamos avançar, e descobrir o que realmente Pedro deseja transmitir-nos neste texto.

Primeiro, temos que entender o significado da palavra “elementos”. Para os teólogos literalistas, o apóstolo está falando das partículas subatômicas que formam a matéria. Para eles, todo o universo físico vai simplesmente dissolver. O fato é que a palavra “elementos” é a tradução do vocábulo grego stoicheia , que em nenhum texto bíblico é usado em conexão com o mundo físico.
É interessante ressaltar que em todo o Novo Testamento, a palavra “elementos” (stoicheia) sempre é usada em conexão com a ordem da Antiga Aliança. Por exemplo: Paulo usa este termo quando escreve aos Gálatas, defendendo a liberdade cristã oferecida pela Nova Aliança, e combatendo a idéia de que o cristão precisaria guardar a Lei a fim de ser justificado. Ali, ele escreve:

“...Quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão, debaixo dos rudimentos ( stoicheia ) do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei...Mas agora, conhecendo a Deus, ou antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos”.
GÁLATAS 4:3-5a-9-10.

Combatendo os mesmos princípios legalistas que sorrateiramente queriam adentrar o arraial dos santos, Paulo escreve aos Colossenses:

“Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos ( stoicheia ) do mundo, e não segundo Cristo...Se estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo( stoicheia ), por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, como: não toques, não proves, não manuseies?”
COLOSSENSES 2:8,20-21.

Estes textos já são suficientes para comprovar que a palavra stoicheia, usada por Pedro, traduzida em nossa língua por elementos ou rudimentos, não tem nada a ver com o universo físico, e sim, com o sistema da Antiga Aliança, que terminou com a queda do templo em 70 d.C.
Com a queda de Jerusalém, o julgamento de Deus caiu sobre Israel. Aquele foi o fim da Era judaica. A Antiga Aliança havia ficado antiquada, obsoleta, e precisava dar lugar à Nova Aliança (Hb.8:13). O Velho Templo já não suportava mais reformas (a última havia sido feita por Herodes!). Agora, Deus havia edificado um novo templo, feito de pedras vivas, que jamais seria derrubado. Enfim, um novo céu, e uma nova terra, uma nova ordem.


· ENFIM, UMA NOVA CRIAÇÃO!


“Se alguém está em Cristo”, diz o apóstolo Paulo, “nova criatura é; e as coisas velhas JÁ PASSARAM, TUDO SE FEZ NOVO. E tudo isto provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o MINISTÉRIO DA RECONCILIAÇÃO, isto é, Deus estava em Cristo RECONCILIANDO CONSIGO O MUNDO” ( II Co.5:17-19a) .

Veja a ligação que há entre a reconciliação e a nova criação. Reconciliar é estabelecer a ordem, harmonizar, restaurar o que foi danificado. Pelo fato de Deus ter reconciliado todas as coisas conSigo mesmo, através da Cruz, fazendo-as convergir em Cristo, Ele pôde estabelecer uma nova ordem. Os elementos da velha ordem foram dissolvidos pelo fogo do Juízo de Deus, e agora, uma nova criação emerge do caos.

Portanto, para nós que estamos em Cristo, tudo se fez novo. Vivemos numa ordem universal. Podemos ver o mundo de uma nova ótica: reconciliado com o Seu criador. O que era velho, já passou! Agora, cabe-nos anunciar isso ao mundo. Ele confiou-nos o ministério da reconciliação. Somos Seus embaixadores. Temos por dever proclamar a obra realizada na cruz, que afetou toda a criação, dispondo-a em um novo sistema, uma nova ordem.

Não recebemos o ministério da condenação. Recebemos, sim, a incumbência de anunciar a reconciliação a todos os homens.

“Vede, eu crio novos céus e nova terra. Não haverá lembranças das coisas passadas, nem mais se recordarão. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio, pois crio para Jerusalém alegria, e para o seu povo gozo”.
Isaías 65:17-18.

“Então vi um novo céu e uma nova terra, pois já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe...Deus enxugará de seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, pois já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado no trono disse: FAÇO NOVAS TODAS AS COISAS. E disse-me: Escreve, pois estas palavras são verdadeiras e fiéis. Disse-me mais: ESTÁ CUMPRIDO. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim”.
APOCALÍPSE 21:1, 46a.

Para quem está em Cristo, esta promessa já está cumprida! Para quem está em Cristo, acabou-se o pranto, a dor, a morte, e tudo o que pertencia ao velho mundo.

· ADEUS VELHO MUNDO!

Os céus e a terra já passaram! Tudo agora é novo. Quando a Bíblia fala que os céus passarão, está se referindo ao sistema da Antiga Aliança, e quando diz a terra passará, está se referindo ao sistema visível, incluindo governos, impérios e etc.

Com o fim da Velha Aliança, os céus se dissolveram, para dar lugar a um novo céu, a um novo e vivo caminho pelo qual nos achegamos a Deus.

Quanto ao sistema do mundo, ele jaz no maligno. Isto quer dizer que, para quem está em Cristo, o sistema do mundo já morreu, ou no mínimo, está agonizando para morrer. É como se ele estivesse condenado a uma morte lenta, uma morte de cruz! É por isso que Paulo ousa afirmar:

“O mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo.”
GÁLATAS 6:14a

Uma das principais características da morte de cruz é a sua lentidão. O mundo está golpeado de morte, porém, ainda agoniza, cambaleia, tentando sobreviver. De nada adianta seus esforços, se Deus já o julgou e o crucificou.

Se ele está crucificado para nós, já não esperamos nada dele. Tampouco deve ele esperar alguma coisa de nós. Tanto o mundo está crucificado para nós, quanto nós estamos para ele. Quando falamos de “mundo” aqui, não estamos nos referindo às pessoas, nem mesmo ao planeta, e sim a um sistema edificado sobre o pecado, o engano, o egoísmo, a corrupção. É este “mundo” que não deve esperar que contribuamos pela sua manutenção. Este “mundo” é inimigo de Deus, e por isso, quem for seu amigo, estará declarando sua inimizade a Deus (Tg.4:4).

Ainda em Gálatas, Paulo nos informa que Jesus Cristo “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos DESARRAIGAR deste MUNDO PERVERSO” (Gl.1:4).

Portanto, já fomos desarraigados do mundo, e vivemos num mundo novo, criado por Deus para ser habitado por aqueles que foram feitos novas criaturas.

Nossa relação com este sistema que ainda tenta sobreviver à cruz, é de uso, porém, sem abuso. Paulo aconselha aos que “usam deste mundo, como se dele não abusassem. Pois a aparência deste mundo passa” (I Coríntios 7:31).

Abusar do mundo, é comprometer-se com ele, embaraçando-se com os seus negócios, e amando as suas concupiscências.

Nós, porém, temos vencido o mundo pela nossa fé, pois somos nascidos de Deus, novas criaturas, para as quais as coisas velhas, incluindo o mundo, já passaram.


[1] De Freitas Mourão, Ronaldo Rogério – O Livro de Ouro do Universo, Ediouro, p.399

2 comentários:

Higor Crisostomo disse...

A Paz do Senhor Irmão Hermes
Sou muito fão do Irmão, acompanho suas postagens no Genizah, no seu blog, e em todos os videos do youtube.
Parabéns, oro para que Deus continue abençoando o amado!
Encontrei esse blog e achei muito interessante a Sua visão Escatologica,só que Tenho uma duvida, algum tempo atrás Eu vi em uma comunidade do orkut a famosa PCC, o Irmão fazendo comentários sobre o Universalismo, vi que o Irmão parece ser simpatizante desse teologia, se posso chamar assim, precisava saber se o Irmão acredita mesmo e defende isso, ou Eu entendi errado os seus comentarios.
Mais uma vez parabéns pelo Ministerio.
FIque na Paz do Senhor

JORGE PAULO BARBOSA disse...

É raro alguém do mundo evangélico atual defender a posição historicista concernente a interpretação das setenta semanas como fato histórico e vincular tal fato ao aparecimento de Jesus como o ungido vindouro.

Ainda mais raro é alguém defender o ano 457 AC como ponto de partida do terceiro decreto de Artaxerxes como este ponto, estendendo a cronologia até 27 AD, período da unção de Jesus como messias e salvador da humanidade.

Enfim alguma luz no tenebroso mundo da distorção futurista que propaga uma falsa segunda oportunidade que não existirá após a vinda de Cristo.